31 agosto 2010


Obrigado, mas escusam de se preocupar

Um exército de comentadores políticos tem desenvolvido uma tese de grande interesse. O Bloco está encurralado com o seu apoio à candidatura de Manuel Alegre.
Nas últimas semanas, o exército de comentadores políticos que nos bafeja com a sua lucidez e seriedade intelectual tem desenvolvido uma tese de grande interesse. O Bloco está encurralado com o seu apoio à candidatura de Manuel Alegre. Sufocado num espaço político de uns quantos milhões homens e mulheres das muitas esquerdas que tem a esquerda. Encolhido numa candidatura que luta pela maioria do país. Os mesmos comentadores que, no passado, arrasaram as candidaturas partidárias, para “cumprir calendário”, “picar o ponto”, ou mesmo “fragmentar a esquerda”, acham agora que o melhor para o Bloco era uma candidatura nesse mesmo registo que criticaram e mostram uma surpreendente preocupação com as consequências nocivas que o apoio a Manuel Alegre poderá ter para a capacidade do Bloco de se diferenciar… em relação a Sócrates. A preocupação é simpática, mas desnecessária.
Ninguém neste país confunde a política do Bloco com a política de Sócrates. Nem uma pessoa. Não acontece. Ninguém acredita nisso, nem que os comentadores o repitam 1000 vezes. Há mentiras que nem assim se tornam verdade. E o debate do orçamento mais uma vez o demonstrará. Quando Francisco Assis diz com todas as letras que está fora de questão negociar o orçamento com a esquerda, o que está a enunciar é a escolha política que o PS fez desde o dia em que chegou ao Governo: Conduzir a política económica no quadro do grande consenso do Bloco Central, dos maiores interesses económicos (não os da economia, bem entendido), apadrinhado pelo actual Presidente.
Sobre esse grande consenso, Manuel Alegre tem sido claro como água. A política de austeridade faz parte do problema e não parte da solução. Cito um, entre outros dos seus discursos. Os sucessivos posicionamentos de Manuel Alegre, em palavras e actos, tornaram a sua candidatura insuportável para a direcção do PS. Sócrates apoiou-o depois do Bloco, a contra-gosto, contra a opinião de muitos dos seus próprios dirigentes. A narrativa que agora nos é vendida pode resumir-se na seguinte ideia: o Bloco obrigou o PS a encurralá-lo. É engenhosa, mas pouco credível.
O Bloco de Esquerda fez um caminho com Manuel Alegre e os que o apoiam. Esse caminho foi feito de reflexão e desenvolveu uma hipótese de unir num movimento todos aqueles que defendem uma política económica centrada no crescimento e na criação de emprego, a oposição à pilhagem do sector empresarial do Estado, o combate contra todas as estratégias de privatização dos serviços públicos, as mais abertas e as mais matreiras. Como todas as convergências, esta não se faz sem dificuldades. Não se faz sem riscos. Não se faz sem contradições. Mas uma Esquerda que falte a esse combate não tem responsabilidade, não tem futuro, não tem desculpa.
No entanto, toda esta ansiedade destes amigos que nos avisam é, sem dúvida, reconfortante. Ela exprime uma dupla preocupação: 1. A preocupação com o impacto da campanha de Manuel Alegre e a necessidade de lhe retirar qualquer potencial agregador contra a candidatura da Direita unida. 2. A preocupação com a participação do Bloco no bloco anti-liberal que a candidatura de Manuel Alegre representa. E não nos enganemos: na primeira linha deste exército de ansiosos, está o núcleo duro do Governo de José Sócrates. Porque a esquerda política que este Governo e a Direita preferem (e os seus comentadores não fazem disso segredo) é a que decidiu estar bem metidinha no seu canto. Quanto mais metidinha no seu canto, melhor. Segura, isolada e absolutamente inofensiva.
opinião de José Gusmão
Deputado, dirigente do Bloco de Esquerda, economista.

01 agosto 2010

PSD quer novo imposto sobre a Saúde, acusa Louçã
Cobrança da saúde aos trabalhadores a partir de um salário médio significa obrigar o cidadão a pagar mais quando está em maiores dificuldades, denuncia Francisco Louçã.

O Bloco de Esquerda defende que o SNS seja pago por todos, para que todos, quando precisarem, possam ter a certeza de que têm acesso ao melhor serviço, explicou Louçã. Foto de Paulete Matos Francisco Louçã defendeu este sábado à noite no Furadouro, em Ovar, que a revisão constitucional apresentada pelo PSD significa que os trabalhadores são sujeitos “a um imposto sobre a Saúde quando mais dela precisam e no momento das suas maiores dificuldades”. Isto porque ao propor que o Serviço Nacional de Saúde deixe de ser público, o PSD obrigará o cidadão “a pagar mais quando está em maiores dificuldades”.

“O centro da revisão constitucional do PSD é impor a cobrança sobre os trabalhadores a partir de um salário médio”, afirmou no comício o coordenador nacional do Bloco de Esquerda. “Passos Coelho nunca precisou qual é esse salário, mas eu imagino que seja os 650 euros e isso significa que qualquer pessoa que está na média de Portugal teria que pagar as suas consultas, os seus medicamentos, veria acabadas as comparticipações e iria pagar uma operação ou uma cirurgia”.

Para Francisco Louçã, essa situação “não é aceitável porque significa que essas pessoas são sujeitas a um imposto sobre a Saúde quando mais dela precisam e no momento das suas maiores dificuldades”.

Na medida em que “os mais pobres passam a pagar o serviço de Saúde”, a revisão proposta pela Direita revela-se assim “muito expressiva quanto ao que querem para o país”.

“O Bloco de Esquerda defende, pelo contrário, que o Serviço Nacional de Saúde seja pago por todos, para que todos, quando precisarem, possam ter a certeza de que têm acesso ao melhor serviço”, explicou Louçã.

Propostas aprovadas pelo Bloco

O coordenador do Bloco de Esquerda apontou que as três propostas que o seu partido fez aprovar durante esta legislatura contribuíram decisivamente para “avanços importantes” na qualidade do Serviço Nacional de Saúde e no “respeito humano” que esse deve demonstrar para com os seus utentes.

“Primeiro, conseguimos que cada pessoa que entra na urgência tenha direito a ter um familiar que o acompanhe nessa situação difícil”, recorda o líder bloquista. “Depois, conseguimos uma carta de direitos do utente que assegura que cada pessoa é informada sobre o prazo máximo de acesso a uma determinada consulta e que esse não é ultrapassado”.

A terceira proposta foi a recente aprovação da lei que “garante que quem sai de uma cirurgia tem direito a levar consigo para casa, gratuitamente, os medicamentos de que precisa para os primeiros cinco dias de recuperação”.

Dessa forma, “a pessoa não precisa ir à farmácia e obtém a melhor qualidade terapêutica no momento mais difícil da sua recuperação”.

“Não queremos que o filho do rico seja tratado de forma diferente do filho do pobre”, conclui Francisco Louçã. “A ambos é devido o mesmo respeito e atenção, e esse é que é um serviço de saúde democrático”.