25 abril 2014


Comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril de 1974, em Ermesinde


Intervenção do José Carlos Gomes representante do BE na Assembleia de freguesia de Ermesinde, nas comemorações do 25 de Abril na freguesia:

No dia 25 de Abril de 1974 amanheceu uma nova esperança para Portugal. Nas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen, foi “o dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio”.
Nasceu naquela madrugada a esperança de ver a riqueza mais bem distribuída para acabar com a fome e com a miséria; a esperança de não ser preciso emigrar para conseguir um emprego justamente remunerado; a esperança de que a educação e a saúde deixassem de ser um privilégio de alguns para ser um direito de todos; a esperança de que pudéssemos erguer uma sociedade solidária, onde, através do Estado Social, todos nos pudéssemos entreajudar, independentemente da idade e da condição social; a esperança de podermos falar livremente para que cada um pudesse ser um cidadão de corpo inteiro, livre e sem medo.
Quarenta anos volvidos, temos um primeiro-ministro que manda os portugueses emigrar. Mais de cem mil, por ano, obedecem-lhe, pois não têm alternativa para não engrossarem a lista crescente de pessoas pobres, necessitadas de recorrer às sopas dos pobres, hoje orwellianamente baptizadas de cantinas sociais ou de bancos alimentares. Enquanto esta ignomínia acontece, as estatísticas dizem-nos que as fortunas dos portugueses mais ricos não param de crescer. Apesar disso, ouvimos um dos merceeiros do regime dizendo que os salários miseráveis que ele e outros pagam só poderão aumentar quando os portugueses produzirem tanto como os alemães, como se não o fizessem, aqui e em qualquer parte do Mundo. Cada dia que passa são mais os jovens que têm de abandonar os estudos, porque as suas famílias não têm como custear as despesas. Aumenta o número de pessoas que prescindem de cuidados médicos essenciais, porque não têm como pagar as abusivas taxas moderadoras e o preço dos medicamentos. Chegámos ao cúmulo de já nem livremente podermos falar. Quando um grupo de 74 personalidades, de diversos quadrantes ideológicos, escreveu um manifesto dizendo o óbvio, que a dívida portuguesa é insustentável e deve ser reestruturada, logo se levantou um coro de novos censores, dizendo que estivessem caladinhos para não aborrecer os “mercados”.
Perante esta humilhação a que está a ser sujeito o país e os portugueses, impunha-se que tivéssemos um chefe de Estado que respeitasse o cargo para que foi investido. Mas não é o caso. Portugal não tem um Presidente da República, tem um aposentado – foi o próprio que preferiu receber a sua pensão de reforma, mais choruda, em vez do vencimento de chefe de Estado. Portugal tem um aposentado que não está para grandes maçadas. Gosta do sorriso das vacas, de brincar com cagarras e de apelar ao consenso, como se, na actual situação, em que os mais ricos enriquecem e os outros todos empobrecem, o consenso não significasse aceitar como natural a injustiça de uma governação fanática e plutocrática. O inquilino de Belém gosta de apelar ao consenso, esquecendo – ou fazendo por não se lembrar – que a democracia é feita de visões divergentes. Se, há 40 anos, os Capitães de Abril estivessem à espera de consensos, não estaríamos hoje aqui a celebrar o 25 de Abril. A Revolução não se fez porque, quais carneirinhos, todos disseram que sim, a bem do consenso. Fez-se porque, como escreveu Manuel Alegre, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”.
Quarenta anos depois daquela manhã que deu esperança a Portugal, não podemos resignar-nos a esta manhã que não desanoitece, ao triste e cinzento regime austeritário. O 25 de Abril valeu a pena. Acabou com o regime fascista e com a guerra colonial, deu direitos aos portugueses que agora estão a ser roubados ignobilmente. Mas, talvez mais importante ainda, o 25 de Abril valeu a pena, porque nos serve de farol de esperança, mostrou que “mesmo na noite mais escura, em tempos de servidão”, por vezes, basta um clique para tudo mudar.
Viva o 25 de Abril de 1974!
Viva os 25 de Abril que hão-de vir!

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